domingo, 30 de agosto de 2009

eu meço no vento o passo de agora.

Caminho em desamparo como quem vive a seguir linhas oblíquas, de fato o tempo não passara para mim. Contudo aquele não era um dia análogo como tantos outros... Ela estava ali, não sei bem de onde surgiu, mas ela estava abruptamente ao alcance dos meus olhos. Ah! Aquela luz ainda flameja em torno de seu pulcro desenho, os cabelos luzem como ouro, amarelo - tão excepcional e tão minha -. Não consigo deixar de admirá-la, me sinto como um vassalo a seu efeito letárgico sobre mim. Ela caminha em minha direção em passos lentos e desajeitados como de costume, conheço-a tão bem quanto meus próprios sentidos. Seria capaz de descrever, mesmo que sucintamente, cada um de seus muitos anseios.
Ah, como eu queria poder abraçá-la, sentir seu perfume mais uma vez e dizer em pueris palavras o quão eu sinto a falta dela em meus ermos dias.
Não há nada que eu mais deseje neste momento do que senti-la minha novamente, ao menos pra que eu possa falar tudo o que eu sempre aspirei e não tive tempo - ou talvez tenha usado o tempo como forma de dissimular minha covardia.
Em poucos segundos nossos caminhos se cruzaram como antes, olhei-a no fundo de seus olhos e neste ínfimo tempo fui capaz de questionar-me quanto à pretensão de Deus em botar tanto azul naquele olhar e o quão intensamente aquele azul me arrebatara durante todo esse tempo.
Quis beijá-la, abraçá-la, expor minha consternação, falar sobre o quanto padeci face ao fim de nós, mas não logrei êxito algum. Por este pouco tempo havia esquecido que ela era como o vento - efêmero e transitório - incapaz de garantir estabilidade a quem quer que seja. Eis que então meu coração acautelou-se e as lágrimas que em vão derramei invadiram nostalgicamente minha memória, limitando meu ignóbil desejo a um elementar: “Olá!"
Desde então aprendi que os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar. E hoje estimo verdadeiramente que o vento te carregue para longe do meu querer... creio que somente neste dia ele se findará.

"E se já não sinto teus sinais
Pode ser da vida acostumar."