segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Avança sem ponderar.

No mínimo repente, a sala encheu-se de luz. A porta, que ora fazia um barulho ensurdecedor, calou-se. Parecia que o tempo prendia a respiração unicamente pra vê-la adentrar aquele lugar. E ela entrou. Andava como quem dança. Queria encantar, chamar a atenção, seduzir. E seduziu. Mexeu os cabelos luxuriosamente, fitou-me como se não me conhecesse. E procurou tornar irrelevante o fato de eu estar alí exclusivamente para desfrutar de sua presença. Aproximou-se a ponto de eu sentir o seu cheiro queimar minhas narinas. Cruzou seu olhar com o meu por um simulacro de segundo que a mim pareceu a eternidade. Aproveitei. Não sabia quando teria aquela oportunidade novamente. Então esbafori sobre o quanto ela foi vil e indigna por ter me deixado todo aquele tempo esperando. Disse tudo. Calado. Naquele simples olhar. E ela entendeu. Mas é um artista a moça dos cabelos de ouro. E, como tal, é mestra na arte de dissimular. Dissimulou todo aquele sentimento agonizante que ficou no curto espaço que havia entre nós. Caminhou. Passou por mim. Ignorou-me. De novo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

As it used to be

Venha a mim, você sabe tão bem onde me encontrar. Eu continuo no mesmo lugar, com os mesmos grandes sonhos nessa mochila tão pequena. Eu continuo onde você um dia me encontrou, provando dos mesmos gostos, sentando nos mesmos lugares, andando pelas mesmas ruas e tendo os mesmos hábitos. Tudo isso como forma de materializar pelo menos um pouco que seja de você. Venha a mim, conte-me o quão maravilhoso é o mundo lá fora e tudo que você experimentou. Mostre-me que você ainda possui o lindo olhar pelo qual me encantei e me mantenho no igual encanto desde então. Discorra sobre seus novos anseios, suas dúvidas ou quem sabe sobre as respostas que você encontrou durante todo esse tempo. Venha a mim, sorria da maneira vil e contagiante, olhe-me com todo o desejo e hostilidade de sempre. Você que de mim possui tanto. Você que de mim possui tudo. Venha a mim ainda que por pouco tempo. Devolva aos meus olhos o brilho que eles apresentam quando te vêem. Devolva ao meu coração um balanço ritmado e ofegante. Devolva a paz que eu encontro no teu abraço. Devolva a minha vida que você levou na bagagem no dia que partiu. Venha a mim, volte.